James M. Dressler
25/01/2017 | O Medo Como Rotina
Para mim, o medo virou rotina. Tenho medo o dia inteiro. Em cada momento do dia, um medo diferente. O medo faz parte da minha rotina. Não, não é medo do futuro, da velhice, de um acidente. É o de estar vivo. Ou melhor, de não continuar vivo.
Viver no Brasil virou um contínuo de grandes riscos. Corremos riscos mesmo enquanto estamos dormindo, dentro de nossas casas. Mesmo aqueles que têm condições financeiras de estarem cercados por grades, com um cachorro grande de guarda no pátio, câmeras por todos os lados, alarmes ligados, não dormem absolutamente tranquilos. Tamanha a audácia dos criminosos, mesmo nas melhores condições de proteção, não temos certeza de que nada de ruim vá acontecer.
Sair de casa, mesmo morando num condomínio com portaria, é sempre um perigo. Basta uma abordagem, naquela hora em que o portão está abrindo e o carro passando, para uma tragédia acontecer. Num assalto, um movimento imprevisto, o nervosismo do assaltante, ou seu completo desdém por outro ser humano, e você perde a vida.
O medo continua, nos acompanha por onde quer que formos, como um fantasma. A cada semáforo, nosso nível de preocupação vai às alturas. E se um assaltante estiver só esperando este momento para me abordar? E se uma moto encostar ao meu lado e o ladrão bater com o cano da arma no meu vidro? E se um carro simplesmente me fechar e me cercarem para me levar o carro e tudo mais que eu tiver? Vão me deixar vivo?
Por medo, há muito abandonei o hábito de estacionar carro na rua. Era meu maior temor, ser abordado ao entrar ou sair do carro na rua. Era tanto, que não suportei conviver com ele e me rendi inapelavelmente aos estacionamentos particulares, que pago com prazer, para evitar que o pior possa acontecer. Outras atividades de extremo risco, como tirar dinheiro num caixa eletrônico, só em último caso. Se tivesse um medidor de perigo, ele ia bater no máximo da escala.
Mesmo quando voltamos para casa, o medo domina. O portão do condomínio parece que sempre leva uma eternidade para abrir. Você fica caçando pelos retrovisores qualquer movimento suspeito, enquanto não consegue passar o carro pela entrada. Mesmo depois de passar você continua olhando para trás para ver se ninguém que não devia entrou junto.
Mesmo já dentro do prédio, o medo não diminui. E se estiver acontecendo um assalto ao condomínio? Você pensa: “Bah! Quero entrar logo em casa!”. Mas não adianta, você não desliga. Chegamos naquele ponto, aqui no Brasil, em que você entra em casa, chaveia a porta, as travas de segurança, e ainda assim pensa que a ousadia é tanta, que qualquer dia irão explodir portas de apartamento com dinamite. Você olha as câmeras do condomínio pelo celular. Parece tudo tranquilo, você desliga um pouco.
Ao ligar a TV, você vê que tudo aquilo que temia acontecesse com você, aconteceu. Mas foi com outro. Só fica a certeza que hoje você escapou, mas amanhã começa tudo de novo.
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