James M. Dressler
29/04/2015 | Ninguém foi preso
Não sei se vocês já repararam num fato comum em diversas reportagens sobre os casos diários de crimes de roubos, assaltos, tráfico e outros tantos que vemos nas páginas de jornais, sites, televisão ou que ouvimos nos rádios. Depois de descrever em detalhes os crimes, e até em muitos casos mostrar um vídeo com toda a ação gravada, o repórter completa: “ninguém foi preso”.
Todos sabemos que por todo o Brasil, o efetivo das polícias civil e militar é inferior ao necessário para combater o crime que só faz avançar, que os salários são baixos, ao menos para quem está na linha de frente, e que a sensação geral é que o crime está vencendo a guerra e que há um círculo vicioso em que cada vez mais pessoas aderem ao crime por sentirem que o risco de serem pegos é cada vez menor, já que os efetivos permanecem praticamente estáticos, não crescendo ou crescendo muito menos do que cresce a turma da bandidagem.
Então, não me surpreende que cada vez mais eu ouça esta frase “ninguém foi preso”, já que os policiais estão sempre correndo atrás da máquina, e é fácil para os criminosos identificarem onde devem atacar sem correrem risco de serem incomodados pela polícia. Mas acredito que isto por si só não explique o atual caos da segurança pública: não é raro escutarmos as queixas dos policiais sobre já terem prendido o mesmo bandido uma dúzia de vezes recentemente, ele ser entregue à Justiça e esta liberá-lo sob os mais variados argumentos, como falta de vagas em presídios, que o crime cometido não foi de alta periculosidade, e outras filigranas jurídicas que nem vou comentar. Isso sem falar nos menores que cometem crimes graves e passam impunes. Não é de duvidar que algum dia, num futuro próximo, um policial fará o seguinte raciocínio: se eu vou chegar lá na hora do crime, prender alguém para ser solto em seguida, correndo o risco de ser baleado por um salário baixo como o que eu ganho, ou numa troca de tiros com o bandido uma bala por mim disparada acertar um inocente eu ainda ser acusado de assassinato, talvez seja bom chegar mais tarde só para fazer uma presença e lavrar uma ocorrência e não comprometer toda minha vida com isso.
Pessoalmente, conheço alguns policiais e sei da gana que eles têm dos bandidos, de como reclamam da lei leniente com o crime como a que temos, do prende-e-solta com que tem que conviver. Mas policial também é humano, e eu não os condenaria se cansassem de prender um sujeito para vê-lo solto na rua no dia seguinte. Não sei se eu agüentaria e se não mudaria de emprego rapidamente.
O fato é que precisamos decidir se tomaremos uma atitude de enfrentamento da bandidagem como, por exemplo, endurecendo a lei, acabando com a tal progressão de regime mesmo para rematados criminosos, construindo mais presídios para manter mais gente presa por mais tempo, reduzindo a maioridade penal e equipando melhor a polícia. Só uma ação destas não será o suficiente, tem que haver um PLANO, um conjunto de medidas que articuladas que deem um choque de enfrentamento do crime, senão continuaremos a perder esta guerra.
O fato é que temos uma grave crise de segurança por todo o Brasil, e me parece que só vai piorar, porque ela não está sendo devidamente enfrentada.
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