James M. Dressler
12/02/2018 | Carnaval
Já curti até baile de carnaval. Está bem, nunca fui um grande entusiasta, mas até gostava, naquela época em que ainda tinha mais gás do que hoje em dia. Eram divertidos aqueles quatro dias sem qualquer compromisso a não ser fazer festa. Mas e o carnaval de hoje, como se compara com o carnaval de mais de 30 anos atrás?
A primeira coisa mais evidente é que lá pela década de 80, o carnaval ainda começava no sábado de carnaval e terminava na terça de noite. Lembro-me de ouvir falar e até de um cartaz do tal “baile do enterro dos ossos”, que se não me falha a memória, acontecia no sábado posterior ao carnaval. Mas era uma coisa exótica, tanto que não me lembro de ninguém dos meus amigos ter me falado que iria ou que tivesse ido alguma vez. Era coisa para aficionados por carnaval. Naquela época, eventualmente se começava a ouvir falar de carnaval somente depois da virada do ano, algumas reportagens sobre o que as escolas apresentariam na Avenida Sapucaí, no Rio de Janeiro, e os enredos até eram mantidos em segredo para surpreender no desfile. Na semana anterior, reportagens falando sobre o movimento de viagens, etc.
A coisa mudou muito de lá para cá. Já em dezembro se comenta o que as escolas apresentarão no sambódromo, e depois da virada de ano, bem, não há outro assunto. É só carnaval. E não só nas notícias. É carnaval na rua, mesmo. Desfile de bloco disso e daquilo por todo o país. Depois falam em crise. Que crise? Faltando um mês para a data efetiva, o que se vê é carnaval em todos os lugares. Fico sabendo que na Bahia o carnaval começa na quinta! Deve ser porque o desemprego está em alta e o pessoal está sem ter o que fazer!
Não bastasse isso, inventaram o descolamento do evento carnaval com o desfile das escolas propriamente dito, caso de Porto Alegre. Ou seja, o carnaval, que já não acabava há alguns anos nem na quarta-feira de cinzas, agora está oficialmente expandido para quase duas semanas a mais. Sinceramente, não sei se o país aguenta tanta festa. Enquanto isso, os países que já são ricos estão trabalhando e crescendo. Depois o pessoal reclama que há concentração de renda e que os países mais ricos ficam cada vez mais ricos enquanto os pobres descem ladeira abaixo. O Brasil, ao menos, não tem do que reclamar. Fez a opção conscientemente.
Outra lembrança que me vem à mente é como aquela semana funcionava na empresa onde eu trabalhava. Não tinha essa de começar a festa na sexta. Todo mundo trabalhava até sexta (inclusive) normalmente, e quarta-feira de manhã, horário normal, estava todo mundo de volta. Hoje em dia, uma minoria volta na quarta de manhã. Uma boa parte volta à tarde, mas o time completo só na quinta. Claro, pode haver exceções, mas isso é o que eu tenho visto por aí nas empresas. Quarta praticamente foi incorporada ao carnaval “oficialmente”, já que nem segunda ou terça são feriados realmente. Aliás, outra preciosidade brasileira: para não contar como dias de feriado oficial, a data não é considerada oficialmente um. Coisas do Brasil.
Fico pensando como será daqui mais 30 anos. Será que chegaremos ao “mês do carnaval”, começando no dia 1º de Fevereiro e terminando só em Março?
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