James M. Dressler
13/05/2015 | Oposição
O que é exatamente fazer oposição a um governo? É ser contra tudo que interessa ao partido que está no poder, ou apoiá-lo quando ele eventualmente abraça idéias e projetos que coincidem com as idéias do partido oposicionista? É fiscalizar o partido no poder para que cumpra o que prometeu ou é tentar impedi-lo de fazer isso, se contraria a ideologia do partido na oposição?
Este é um dilema que eu certamente teria cada vez que me defrontasse com tal situação se fosse um parlamentar aqui ou em qualquer lugar do mundo. Há muitos enfoques possíveis, um deles é que temos que enxergar “mais longe”, vendo o bem do país, mesmo que isso eventualmente ajude o partido do qual discordamos ideologicamente. A visão mais curta seria aquela apelidada de “quanto pior melhor”, de tentar afundar o governo mesmo que isso signifique prejudicar o país.
Mas será isso mesmo? Depende. E depende fundamentalmente do quê? De quão longe estamos tentando enxergar. Nada como nos transportarmos para um momento histórico bem conhecido para ver o que pode acontecer em ambos os casos.
Imagine-se um parlamentar na Alemanha na época de ascensão do nazismo. O partido nazista até propõe alguma coisa com a qual você concorde (no meu caso seriam poucas, se é que haveria alguma), como o máximo a jornada de trabalho de quarenta horas semanais, algo que certamente angariaria muitos votos na próxima eleição para o partido nazista. Você, já percebendo o que estava por trás daquela nefasta ideologia, votaria a favor de algo que pavimentaria ainda mais a ascensão do partido nazista ao poder, ou votaria contra? Fácil decidir este dilema agora, não? Na época, para quem era bom observador, já era bem fácil discernir o mal que viria. Podemos argumentar facilmente que seria ótimo para o povo alemão trabalhar só oito horas por dia de segunda à sexta. Então, na visão curta, o bom seria votar contra para não dar esta vantagem para os nazistas, mas olhando mais adiante, o bom seria votar a favor, porque seria bom para o povo. Mas olhando ainda mais adiante, evitaríamos a segunda guerra mundial, embora não se soubesse deste desfecho histórico.
Vamos agora para outro momento na história brasileira: votação do ajuste fiscal proposto por Joaquim Levy, ministro escolhido por Dilma Rousseff para tentar consertar o estrago feito no seu mandato anterior como presidenta, mas cujos ecos já vem de antes, do segundo mandato de seu antecessor. Congressistas do Partido Democrata (DEM), votam a favor do ajuste fiscal, salvando o governo petista de uma derrota fragorosa que teria sérias consequências para o Brasil, como um possível rebaixamento das notas das agências internacionais de avaliação de risco. Os representantes do DEM votaram certo ou errado? Estariam olhando a árvore ou a floresta? Ou olhando o planeta?
Difícil dizer. Eu tenho convicção de que uma vez que você considere um partido maligno, que não é democrático, que tenta subverter a democracia depois de ter chegado ao poder, que não se importa com os meios para atingir seus fins, você tem a MISSÃO de tentar derrubá-lo mesmo que eventualmente ele apresente alguma ideia boa. Se for novidade, anote-a. Nada mais que isso. Mas siga na sua missão.
Fica na consciência e livre-arbítrio de cada parlamentar identificar quem é ou não é maligno. Faz parte da democracia e da arte da política. Ao eleitor cabe acompanhar e avaliar dentro de seus critérios se o parlamentar errou ou acertou. E é uma difícil e longa análise para ambos.
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