James M. Dressler
04/12/2014 | A Fadiga dos Metais
Na engenharia, há a área de resistência dos materiais, onde se estudam as tensões às quais os mais diversos materiais podem ser submetidos, até que aconteça a fadiga e a ruptura. Graças a esta área do conhecimento, temos carros seguros, moradias seguras e toda sorte de ferramentas de trabalho, entre outras conquistas da engenharia moderna.
Lembro disso agora porque, como todo profissional, acabo procurando e encontrando semelhanças entre as minhas áreas de conhecimento profissional e o cotidiano. E me parece que teremos, ao longo de 2015, uma tensão crescente entre a presidenta recentemente eleita e a nova equipe econômica, escolhida por ela mesma.
A coisa já começou de forma estranha, com a ausência da presidenta na apresentação da equipe. Fica parecendo que a presidenta queria evitar ser fotografada e filmada com dois ministros que são vistos como de “direita” pelo mercado e pelos políticos. Há aquela sensação de estelionato eleitoral, da presidenta ter feito exatamente aquilo que ela dizia que os seus adversários iriam fazer, nomear um banqueiro para o Ministério da Fazenda; então talvez o melhor seja não ter mesmo imagens disso para evitar a exploração na campanha eleitoral de 2018.
Esse começo, que considero ruim, é um prenúncio de como as coisas se desenvolverão quando os apertos no orçamento, arquitetados por Joaquim Levy, começarem a ter seus efeitos sobre os programas sociais do governo federal e sobre o humor do eleitorado que depende deles. Isso, associado à inflação elevada e crescente, a um possível novo aumento de juros e quem sabe a uma elevação da carga tributária, terão efeitos duros sobre a economia e sobre a população em geral. Como isso afetará o crescimento e a geração de emprego, é difícil dizer, mas acredito em um ano de 2015 difícil.
E é aí que a tensão entre presidenta e a nova equipe econômica tenderá a crescer exponencialmente, porque quem estava acostumada a mandar no Ministério da Fazenda até agora, praticando uma política com uma visão desenvolvimentista praticamente oposta à que será implementada a partir de 2015, só permitirá que isso aconteça enquanto for absolutamente necessário. O desgosto em verem aplicadas em seu próprio governo políticas em que não acredita, somadas às pressões do próprio partido (que considera a nova equipe tucana) e de suas diversas ONGs satélites farão o resto do trabalho.
O somatório dessas tensões levará um tempo, terá vários ciclos, criará pequenas deformações e fraturas no relacionamento entre presidenta e equipe econômica até que a fadiga aconteça. Quando ela se dará? Vai depender do sucesso das medidas tomadas e do quanto se farão sentir na população. O que me parece certo é que as medidas são necessárias e deveriam ser permanentes, mas elas terão prazo de validade curto.
A fadiga está a caminho. Minha aposta é que não passará de 2016. Um primeiro ano para por a casa em ordem, e no segundo, quando as coisas começarem a melhorar, o próprio sucesso acelerará o processo.
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