James M. Dressler
04/06/2018 | Subsídio
Dadas as demandas dos caminhoneiros, não havia outra saída para o governo a não ser dar, entre outras coisas, subsídio no preço do diesel. Era algo óbvio desde o início, mas e agora, quem paga a conta?
Sem dúvida alguma, o povo brasileiro. Merecido para aqueles que defenderam o movimento dos caminhoneiros desde o início, péssimo para os demais que já sabiam que pagariam a conta e eram contra. O governo acena com uma redução de R$ 0,46 do preço do diesel nos postos de combustíveis, porém “esqueceu” (ninguém realmente acredita nisso) de algumas coisas: (1) o diesel terá redução de R$ 0,46 no preço na refinaria, mas depois disso é misturado com biodiesel (na proporção de 10%), cujo preço não sofreu redução alguma; (2) há outros custos envolvidos na formação do preço do diesel depois que sai da refinaria que não tiveram diminuição, e no mínimo um que vai ter aumento, o próprio preço do frete, agora tabelado em um valor mínimo pelo próprio governo.
Fazendo uma conta básica, só pela adição do biodiesel, a redução já deveria cair para R$ 0,41. Se a redução deveria ser menor, não importa muito o valor, e o governo diz que vai obrigar, sob pena de pesadas multas, os postos a venderem com o desconto de R$ 0,46 em relação ao preço praticado em 21/05/2018, está na cara que o dono do posto vai fazer uma conta dos volumes médios históricos de diesel e gasolinas vendidos, e vai compensar o prejuízo no diesel aumentando o preço da gasolina. Essa nem precisa de desenho! E o povo que já iria pagar pelo subsídio direto via governo, também vai pagar este segundo estágio de subsídio no diesel direto na bomba.
A realidade é que temos um excedente de caminhões fazendo transporte, motivo pelo qual há uma grande oferta do serviço, sendo este o principal motivo dos caminhoneiros não conseguirem aumentar o preço de seus fretes, a despeito do aumento de custos. Há sempre um caminhoneiro que tem custos menores que aquele que se nega a transportar por um valor de frete, e que aceita o serviço pelo valor mais baixo oferecido. Estima-se que haja em torno de 10% a 15% de caminhoneiros excedentes no Brasil, que entraram no negócio principalmente depois do incentivo ao crédito para compra de caminhões no governo Dilma. Muitos se aventuraram sem ter uma real noção dos custos e do mercado de transportes, e com isso quebraram a cara.
O que fica desta política de subsídio a um setor que passa por uma ineficiência, como o do transporte rodoviário? Na contramão do que a maioria reclama, de que estamos dependentes do transporte por caminhões e que o ideal seria investir no transporte ferroviário, é justamente ao último que tal política resulta em um desincentivo. Se não compensasse financeiramente transportar por caminhões, investidores procurariam outros modais para transporte de cargas, favorecendo o investimento nas ferrovias. Havendo subsídio a caminhões, é óbvio que os investidores provavelmente investirão mais onde há mais subsídios, ou não investirão em absolutamente nada relacionado a transportes, temendo pela retirada de subsídios ou esperando que outros setores recebam as mesmas benesses.
Seja como for, só duas coisas são absolutamente certas, resultantes do locaute dos caminhoneiros: eles obtiveram vantagens e os contribuintes é que vão pagar a conta. De quebra, a Petrobras perdeu o presidente que a recuperou da quase falência, além de boa parte de seu valor de mercado.
Parabéns aos envolvidos.
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