James M. Dressler
08/07/2015 | Grécia
Estamos provavelmente nos capítulos finais do impasse entre Grécia e seus credores. Independentemente do resultado do plebiscito, proposto pelo governo grego para decidir sobre aceitar uma proposta de renegociação e ajustes que já não mais existe, será interessante observar o que acontecerá no país nos próximos anos.
A crise grega, assim com as crises já relativamente superadas de Portugal e Irlanda, são resultado direto da expansão da moeda e do crédito na criação da União Européia, realizadas pelo Banco Central Europeu no ano 2000. Os principais destinos desta expansão de crédito foram os três países citados, incluindo também a Espanha. A união dos países também deu uma percepção equivocada de mais força econômica para todos os países bloco, inclusive aqueles que não tinham cacife para isso, o que reduziu artificialmente a percepção de risco ao investir nestes países. O resultado foi o que se viu: o excesso de dinheiro foi mal utilizado, financiando o consumo e o assistencialismo de forma insustentável. Um dia o dinheiro acaba.
A Grécia agora se vê diante da opção de aceitar o plano de austeridade dos credores ou se desligar da Zona do Euro e voltar a ter moeda própria. Acatar as medidas de austeridade e sanear as contas do governo, reduzindo gastos, cortando aposentadorias, cortando salários e diminuindo a estrutura do governo pode ser duro, difícil, mas a outra opção pode ser bem pior. O fato é que a Grécia estará pagando pelo conjunto da obra, por não ter feitos reformas que modernizassem o país, como a previdenciária. Há ainda hoje pessoas se aposentando com 50 anos ou menos por lá, onde a expectativa de vida se aproxima dos 80 anos. Com a entrada na União Européia, a Grécia imaginou ter, de repente, entrado no mundo dos países desenvolvidos como a Alemanha. Bem, a coisa não era tão simples assim.
Sair da União Europeia e voltar a ter moeda própria é um salto no escuro, a estas alturas. Pode ter efeitos negativos na principal atividade econômica grega, que é o turismo. Mas poderá ajudar o governo a ajustar seus preços internos com a simples desvalorização da moeda, tornando o país mais competitivo no mercado mundial.
Acho que o principal problema da Grécia, ficando ou não na Zona do Euro é entender por que o país, que foi um dos berços da civilização ocidental, parece ter ficado à margem da modernidade, sendo conhecida apenas pelas suas belas ilhas e jamais pelo que produz e exporta para o resto do mundo. Por que o país não desenvolveu um setor industrial? Olhando daqui, por tudo que já li, parece que a Grécia é um país muito voltado para o estado, pouco voltado para a iniciativa privada, com exceção da indústria do turismo. Não há país que resista a um modelo assim.
Neste semestre a situação da Grécia tomará um rumo definitivo. Para nós aqui do Brasil, o interessante será observar como o governo lidará com as pressões para as reformas estruturais que a Grécia necessita e se recusa a fazer, muito semelhante ao que acontece no nosso Brasil e cujos efeitos já se fazem sentir. Nada acontece por acaso.
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