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James M. Dressler
08/04/2015 | Pragmatismo Político
Há aquela máxima sobre as salsichas, melhor não saber como elas são feitas. Bem, apesar disso, até para os mais desligados sobre política, gostaria de recomendar o seriado “House of Cards” (em português, seria algo como “Castelo de Cartas”), que acompanha a trajetória dos personagens Claire (interpretada pela bela Robin Wright) e Francis Underwood (o excelente Kevin Spacey), um inescrupuloso congressista americano que não tem receio em fazer o que tiver que ser feito para progredir na carreira.
A certa altura, chega a ser engraçado, porque a semelhança com alguns políticos brasileiros é evidente. Truques, acordos, traições, nada disso falta no mundo político desta série, e não vamos ser ingênuos, é assim mesmo no mundo real, seja no Brasil ou em qualquer lugar do mundo. A principal diferença que se nota é que é impensável lá, mas comum aqui no Brasil, o que chamamos de patrimonialismo, a confusão entre o que é público e privado, o uso do aparato público na vida privada do político. Aqui, são famosos e corriqueiros usos de jatinhos da FAB por políticos em Brasília até para visitar a família no final de semana, ou até por motivos menos nobres.
A terceira temporada aborda a campanha de reeleição de Underwood à presidência, e não há como não traçar paralelos com a nossa última campanha presidencial, ano passado. Nem mesmo o diabólico Underwood teria coragem de acusar seus adversários de fazer aquilo que ele secretamente já planejava fazer se eleito. Observa-se que a campanha americana, não só esta, ficcional, mas também as que já acompanhamos nas últimas décadas, centram-se muito mais em bater nos supostos erros do candidato oponente, seja ele o presidente buscando reeleição, seja o adversário, onde quer que tenha atuado anteriormente. Acusar alguém de que irá fazer alguma coisa e depois o próprio fazer aquilo que condenara, certamente seria o fim não só da carreira política do mentiroso, mas também acarretaria uma repulsa maciça a sua pessoa na vida privada. Já aqui no Brasil, noto que há uma diferença, há quem defenda (e não são poucos) o impensável e que não tem o menor escrúpulo em defender a mentira pragmática como método para manter-se no poder. Por outro lado, a queda da popularidade da presidente me dá um alento de que as coisas estejam mudando para melhor na sociedade brasileira. Espero que não seja apenas porque a política econômica empregada pela presidenta tenha sido um desastre, o que não surpreende, mas também pelas táticas empregadas por ela na campanha da reeleição.
Apesar de ser uma obra ficcional, “House of Cards” não deixa de expressar, através de seus personagens, uma visão de como as coisas são na política e até onde elas podem ser toleradas, dentro dos valores morais e éticos da sociedade americana. E isso fica bem claro, na medida em que aqueles que cercam Underwood começam a conhecê-lo melhor e perceber até onde ele é capaz de ir. Tracemos um paralelo com o Brasil, e não posso deixar de achar que diferentemente da série, alguém com tais “qualidades” teria o apoio entusiasmado de seus seguidores, um fanatismo até, todos com aquela ânsia de arranjar uma boquinha no governo. Acho que até surgiria o “Underwoodismo” e, evidentemente, qualquer semelhança com nossa realidade não é mera coincidência.
Eu mesmo sou uma pessoa bastante pragmática, mas o meu pragmatismo está subordinado aos meus valores morais e éticos. Renovo minha esperança que estejamos elevando nossos patamares para não mais tolerarmos este vale-tudo que imperou até aqui na política brasileira. O país só ganhará com isso.
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