James M. Dressler
27/01/2016 | Insanidade
E entramos em 2016 definitivamente com a volta das mesmas ideias que conduziram o Brasil ao buraco depressivo em que atualmente se encontra. Como uma daquelas pragas que parece que morre, mas que na realidade só hiberna quando sob ataque, o “desenvolvimentismo” parece ter voltado para mais uma experiência em que nós seremos as cobaias. Nesta semana, fomos surpreendidos com manutenção das taxas de juros pelo Banco Central, quando até uma semana atrás tudo apontava para um aumento de meio ponto percentual.
Alguns economistas acreditam que a decisão foi correta, porque teríamos entrado em uma fase de “dominância fiscal”, que acontece quando a desordem fiscal é tão grande que o aumento da taxa de juros já não tem qualquer efeito sobre a inflação. Poderia até ser o caso, o problema é que como o governo se nega a fazer um ajuste fiscal reduzindo despesas e também dificilmente conseguirá aumentar a arrecadação mesmo que aumente impostos, qual seria a outra opção? Conclui-se que o governo optou por não fazer nada. “Boa ideia”. Coisa de “desenvolvimentistas”.
Já cansei de repetir neste espaço que certas pessoas não aprendem nada e nem esquecem nada. Lembro que Einstein já dizia que insanidade é continuar fazendo as mesmas coisas e esperar, em cada tentativa, resultados diferentes. No Brasil atual, dá para complementar que é coisa de quem estoca vento, provavelmente dentro da própria cabeça. Então, o que esperar desta nova investida do “desenvolvimentismo”, que não o mesmo desastre que nos proporcionou crescimento zero em 2014 e queda de 3,8% do PIB em 2015? Provavelmente o que o FMI já estimou: nova queda do PIB em 2016, agora de 3,5%. É o que eu chamo de insanidade. E daria para ter outra expectativa? O FMI não é formado por gente insana, e eles conhecem a máxima de Einstein.
E porque a volta destas políticas nefastas? Acredito que por algum tempo o governo tentou apenas ludibriar as agências de classificação de risco colocando Joaquim Levy no Ministério da Fazenda, com o único intuito de evitar o rebaixamento do Brasil e a consequente perda do grau de investimento. Nunca realmente acreditou no ajuste fiscal, que ele fosse realmente necessário. Na realidade, acredita exatamente no oposto: o Estado existe é para gastar a rodo, como se nunca houvesse amanhã. Uma vez perdido o grau de investimento, o governo decidiu que “agora vamos fazer como a gente acha que sempre deveria ter sido feito”. Resumo: “desenvolvimentismo”.
Não é de duvidar que daqui um pouco voltemos a baixar juros na marra, como já aconteceu há alguns anos atrás, o que acelerou em muito a deterioração do quadro econômico brasileiro. O problema é que a falta de ajuste fiscal fará a inflação continuar avançando. Além disso, a indexação da economia, que o próprio governo adora incentivar, reajustando o salário-mínimo acima da inflação e acima de qualquer produtividade, se encarregará de dar o empurrão precipício abaixo. A inflação acabará se aproximando da taxa SELIC de tal forma que haverá o desinteresse pelos títulos públicos, através dos quais o governo rola sua dívida. E adivinhe o que o governo será obrigado a fazer? Aumentar os juros para tornar seus títulos atraentes de novo. No fim, acabaremos com mais inflação e juros mais altos. Não é o oposto do que queríamos? Exatamente como já aconteceu em 2012 e 2013, o que conduziu a inflação a ficar sempre acima da meta dali em diante, obrigando a sucessivos aumentos da taxa SELIC até os patamares de hoje.
Veio à mente aquela sensação de “déjà vu”? Bem, lembre-se da definição de Einstein para insanidade e prepara-se para o que o futuro próximo nos reserva. Vou fazer uma previsão: teremos em 2016 novos rebaixamentos da nota do Brasil pelas agências de avaliação de risco, nos afastando completamente de um dia (na próxima década) recuperarmos o grau de investimento.
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