James M. Dressler
02/04/2018 | Desejo de Matar
Death Wish (Desejo de Matar) é um filme de 1974, estrelado por Charles Bronson, que retratava a situação de insegurança da cidade de Nova Iorque naquela época. Um daqueles bons filmes de ação que ajudou a consolidar a carreira de Bronson como sendo um dos mais conhecidos atores de Hollywood.
Pois não é que depois de tanto tempo, a história foi refilmada? Prestes a estrear, o remake traz no papel principal Bruce Willis como Paul Kersey, agora um médico (diferentemente da versão original, em que era arquiteto), que se torna um vigilante pronto para tomar a justiça em suas próprias mãos e corrigir os defeitos que ele julga existirem no processo legal de responsabilização dos criminosos.
A Nova Iorque da década de 70 era realmente um ambiente degradado, de impunidade para os bandidos, de máxima tolerância e leniência com toda sorte de crimes, dentro daquela visão de que só se comete um crime porque se é, em primeiro lugar, uma vítima da sociedade. Não surpreendentemente, desta visão de mundo para o império da violência das supostas vítimas contra a “sociedade opressora” é um passo bem pequeno. A cidade só conseguiu reverter este quadro e se tornar uma cidade muito segura quando passou a adotar a chamada “tolerância zero”, durante o mandato de Rudolph Giuliani como prefeito em meados da década de 90.
O filme de vinte anos antes, ao qual se seguiram outros da série, tornou “Desejo de Matar” uma das primeiras sequências de filmes muito bem sucedidas da indústria cinematográfica. Acredito que tenha sido um alerta do que poderia vir a acontecer caso a onda de crimes na cidade não fosse contida, o que acabou acontecendo só duas décadas depois. Para evitar que a vida imitasse a arte de maneira trágica como mostra o filme, não restou alternativa além de adotar as medidas necessárias para acabar com a violência que reinava em Nova Iorque.
Aí me vem à cabeça o nosso cotidiano nas cidades brasileiras. Se você vir o filme de 1974, certamente não ficará chocado com a trama como eu fiquei naquela época. Parecia algo tão distante da minha realidade na década de 70! A verdade é que no Brasil de hoje vemos diariamente coisas muito piores do que o filme retrata. Seja na TV ou no YouTube, vemos cenas horrorosas de pessoas sendo executadas em plena luz do dia por causa de smartphones de R$ 400. A morte foi banalizada, mata-se por qualquer coisa e por qualquer motivo, e depois se dá uma desculpa qualquer do tipo “estava drogado e não sabia o que estava fazendo”, “perdi a cabeça”, “tenho um transtorno psicológico” e por aí vai. E sempre há os defensores dos criminosos que pouco se interessam pelas vítimas, principalmente se fizerem parte da “elite” ou das “classes opressoras”. Se fosse filmar-se uma versão brasileira de “Desejo de Matar”, certamente os defensores dos direitos humanos teriam que ter grande destaque na trama. Depois de quarenta e quatro anos, a realidade brasileira tornou o “Desejo de Matar” original um filme até meio sem graça, tal a banalidade que o crime atingiu por aqui.
Parece que falta muito para chegarmos à conclusão de que precisamos também de um regime de “tolerância zero”. E seguindo o atual estado de coisas, o que já é péssimo vai piorar.
Compartilhe
- Dia de Santa Adelaide
- Dia de São José Moscati
- Dia do Butantã
- Dia do Reservista
- Dia do Síndico - Porto Alegre
- Dia do Teatro Amador