James M. Dressler
10/06/2015 | Voltando ao Assunto
Já escrevi anteriormente sobre a inflação, mas como ela parece cada vez mais voltar a fazer parte de nossas vidas, já que é uma peste resistente e que uma vez alimentada não se entrega fácil, volto ao assunto.
Primeiro, vamos lembrar exatamente o que é inflação. É um aumento da quantidade de dinheiro e crédito na economia decorrente da criação adicional de dinheiro (impressão pura e simples!) sem que haja um correspondente aumento de riqueza a ser representada por este dinheiro adicional. A inflação de preços é causada unicamente por este aumento de dinheiro em circulação, nada além disso. Imagine uma bacia cheia de água com alguns patinhos de borracha boiando. A bacia é a economia, a água é o dinheiro que circula na economia, e os patinhos são os preços. Coloque mais água na bacia, e os patinhos vão subir junto com a água. Não há como evitar. Nem patos de borracha querem se afogar.
Mas o que leva o governo, mais especificamente o seu Banco Central, a emitir mais moeda? O principal motivo é o governo ter um orçamento deficitário, ou seja, gastar mais do que arrecada. Tocou um sino agora? Certamente você já ouviu esta “ladainha” nos programas de rádio e TV ou leu algo sobre isso no jornal ou em algum site de notícias. Nosso governo gasta demais, no seu esforço equivocado de redistribuir riqueza e renda, tirando de setores produtivos para entregar para setores improdutivos (se fossem produtivos não “precisariam” de ajuda), e o resultado é que desestimula e prejudica quem produz e não obtém resultados com aqueles que já eram improdutivos (não o eram por acaso) e, pior ainda, os incentiva a continuarem sendo improdutivos e dependentes de ajuda do governo. Para cobrir seus déficits, o governo emite mais dinheiro, e bem, os patinhos passam a flutuar num nível mais alto. Há outras maneiras de aumentar o dinheiro em circulação, como reduzir os depósitos compulsórios de bancos e reduzir juros, mas a principal é a emissão de dinheiro.
Freqüentemente ouvimos falar de inflação gerada pelo “aumento de custos”, o que simplesmente não existe. Se os custos para produzir um bem aumentam, mas não há dinheiro sendo injetado na economia, a qualquer tentativa de repasse do aumento de custos o que acontecerá é que as vendas diminuirão. Alguém poderia dizer que certos produtos não podem deixar de ser consumidos, mas a verdade é que podem em parte, sempre dá para enxugar alguma coisa. De qualquer forma, como a quantidade de dinheiro na economia permanecerá a mesma, faltará dinheiro para comprar outros produtos e serviços, o que levará a seus produtores a perderem vendas e terem que baixar preços para continuar vendendo. No resultado geral, na média a subida e baixa de preços se compensarão e o índice de inflação permanecerá estável.
Felizmente ainda não chegamos à fase em que o culpado pela inflação, o governo, poderia jogar politicamente e fazer congelamentos ou controle de preços. O povo já aprendeu com o fracassado Plano Cruzado e o vitorioso Plano Real, que isto não funciona, apenas geram escassez de produtos, prateleiras vazias e desorganizam completamente a economia. A Venezuela passa por isso neste momento. Espero que a inflação consiga ser domada antes que o governo volte a usar destes expedientes enganadores.
Resta-nos aguardar pelos resultados das medidas tomadas pelo ministro Joaquim Levy. Que sejam bem sucedidas, e que o aperto monetário tardiamente lançado pelo Banco Central faça seus efeitos. Se tudo der certo, voltaremos a um patamar mais aceitável de inflação em 2017. Será uma árdua travessia, mas era previsível o que iria acontecer, avisos não faltaram, mas o populismo econômico foi mais forte. Meu temor é que não tenham aprendido a lição. A turma que está aí no poder não esquece e também não aprende nada, já deram várias demonstrações disto.
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