James M. Dressler
20/11/2014 | Responsabilidade Fiscal
Recebi, não sem uma certa perplexidade, a nova proposta do governo federal de simplesmente jogar fora a meta de superávit primário, aquela economia que o governo faz para pagar os juros da dívida pública. Depois de anos e anos de contabilidade criativa, em que ainda havia algum superávit, aumentado por manobras contábeis, chegamos ao ponto em que simplesmente não há mais como disfarçar o rombo das contas públicas.
A conclusão óbvia é de que o governo chegou à conclusão de que manter as contas em dia é uma bobagem, e quer carta branca daqui em diante para fazer o que bem entender. Não interessa nem admitir que este ano não conseguiu superávit, e tentar fazer o certo o ano que vem. O governo quer poder nunca mais ter que cumprir qualquer meta de superávit, porque já não tem mais como manobrar: reduziu impostos demais, fez (e faz) assistencialismo demais, gasta demais em todas rubricas, e como resultado o país cresce de menos com a inflação fora de controle. Enfim, já gasta além da conta e de forma tão ineficiente e improdutiva, que não sabe mais o que fazer. Então, que se jogue a contabilidade fora.
É como aquele chefe de família que gasta mais do que ganha, e como solução para o problema, quer um cartão de crédito ilimitado para continuar gastando sem controle. Se formos ver o nível de endividamento das famílias brasileiras e a inadimplência reinante no país, parece que foi nisso que o governo se inspirou. Do jeito que vai, qualquer hora dá um calote na dívida, fica no “Serasa mundial” por cinco anos e depois começa tudo de novo... Alguém avise o Planalto de que a coisa não funciona bem assim no mundo real.
Quando vejo esta seqüência de eventos, lembro-me sempre como era a época da inflação de 100% ao mês, já no governo Collor, e de como o Plano Real veio e colocou as coisas no lugar novamente. E lembro que a inflação realmente começou a ser alimentada na década de 60, continuou depois, na época da ditadura, para finalmente explodir a níveis de hiperinflação com a redemocratização do país. E lembro que a causa primeira era a total ausência de responsabilidade fiscal, com governos em todos os níveis gastando mais do que arrecadavam, obrigando a emissão de mais dinheiro, o que alimentava a inflação, e que forçava depois a aumentos salariais e de preços, o que realimentava o ciclo vicioso.
Não vou dizer que não aprendemos nada. Aprendemos sim, mas nem todos. Aqueles que sempre foram contra o Plano Real, vem há mais de uma década avançando, com passos de bebê, no desmonte dos pilares do plano que acabou com a inflação. O plano foi bom, vem resistindo a cada solapada que leva, mas um dia a casa cai. Parece que agora resolveram dinamitar as bases.
Preparem-se.
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